Lendo a entrevista do ministro Garibaldi Filho nas páginas amarelas da revista VEJA – está nas bancas – me pergunto, falando comigo mesmo: que outro ministro usaria de tanta franqueza, para não dizer coragem? A resposta, de imediato, é: nenhum outro. Com toda a certeza. É bem verdade que Garibaldi parte de um diagnóstico conhecido de todos nós. O estado de falência da Previdência Social. Dentro de poucos anos, se não for feita uma profunda reforma, que Garibaldi define, citando números, política e regras, estará inviável, com riscos para os aposentados. 

Mas Garibaldi avança ao expressar suas dúvidas se a reforma da Previdência será feita ou não, quando outras reformas, como a tributária e a política, estão empacadas há mais de anos. Nem o Governo força, nem o Congresso Nacional vota. A própria sociedade brasileira não se mostra atenta.

O repórter perguntou a Garibaldi: “Há três anos, quando presidente do Senado, o senhor dizia que as reformas estruturais, entre elas a da Previdência, não saiam porque faltava um presidente estadista o suficiente. Continua faltando?”


Resposta bem ao estilo Garibaldi: “Você quer me ver demitido… só pode ser. Temos o apoio da presidenta e de todo o Governo para a aprovação do Fundo de Pensão dos Servidores. As maiores resistências, hoje, são dos sindicatos e dos parlamentares ligados a eles, que acham que o que está aí precisa e deve ser preservado. É uma forma distorcida de ver o problema. Os sindicatos, que deveriam ser de esquerda, as vezes são mais conservadores que os conservadores de direita. O fato é que os atuais servidores não têm com o que se preocuparem. Nada muda para eles. As carreiras não serão desfiguradas. Ninguém vai ser prejudicado”.

Garibaldi cita números. O ano de 2010 terminou com o déficit de 93 bilhões de reais na Previdência Social, com aumento de dez por cento ao ano, de forma horizontal. Vale à pena ler, na íntegra, a entrevista, como documento e como depoimento. O ministro define a diferença entre a presidente Dilma e o ex-presidente Lula como de “estilo” e diz: “Ela é brava mesmo. Ela nunca me chamou a atenção, mas já a vi chamando de outros. Às vezes, o tom dela sobe um pouco. Desde o tempo em que era ministra”. Só Garibaldi mesmo.  (Agnelo Alves – Tribuna do Norte).