As frases foram escritas sobre a caricatura do então CEO do Lehman Brothers, Richard Fuld, desenhada pelo artista Geoffrey Raymond, por pessoas que passavam em frente à sede do banco, em Nova York, no dia seguinte em que este entrou com pedido de concordata, em 15 de setembro do ano passado.

Os americanos lamentavam os empregos perdidos, o fracasso do livre mercado e o fato que deixou à mostra o calcanhar de Aquiles do sistema capitalista.

Nó na garganta – Dado o tamanho da instituição, o evento foi problemático para o setor. Mas ele foi mais do que isso. Colocou em xeque a credibilidade da economia americana, dos bancos, do sistema financeiro e do Fed (Federal Reserve), acabando por gerar uma crise de confiança. Entre os investidores brasileiros, que até então comemoravam o desempenho da Bolsa de Valores, a questão do risco voltou a ser tema prioritário.

Blank dos Santos: “Enfrentar dois circuit breaks em uma semana dá nó na garganta”

Mais tarde, o risco mostrou-se alto. A queda vertiginosa do Ibovespa, que chegou aos 29.435 pontos, em 27 de outubro, embrulhou o estômago de muitos. “Lembro que todo mundo achava que estava tudo bem. O Governo chegou a falar que a situação não era grave. Mas conversei com minha esposa e resolvi sair, por intuição mesmo. Depois, voltei para a Bolsa, porque ela havia subido novamente, de forma que imaginei que os tempos de alta iriam retornar. Mas então a crise estourou. Quando vi que havia perdido metade do capital, saí. Fiquei abalado. Enfrentar dois circuit breaks em uma semana dá nó na garganta, dor de estômago”, conta Cacio Blank dos Santos, de 28 anos, que investe há quatro anos e trabalha como técnico de Operações.

Ele lembra que quase desistiu da Bolsa. “Não iria enfrentar mais a situação. Se o barco estava furado, não iria dar uma de herói. Saí novamente, para me proteger”. Entretanto, a desistência de Santos havia sido temporária. “Voltei a estudar, para entender o que estava acontecendo, e resolvi voltar”, conta.  “Depois de um ano, recuperei o que perdi, diversificando e aproveitando a tendência de crescimento das small caps do ramo de construção, por exemplo. O segredo é estudar para não ser marionete na mão dos experientes. Hoje estou me aprofundando bastante em análise técnica e fundamentalista, observando melhor a saúde das empresas”, diz o investidor, para quem a crise serviu de aprendizado. “Foi sofrida, mas produtiva. Se, na época, tivesse a experiência que tenho hoje, teria me protegido mais”.

Teoria versus prática na hora de investir

Especialistas aconselham incansável e repetidamente que não se pode entrar em pânico nos momentos de baixa e realizar prejuízo. Mas, na prática, a teoria não funciona. “Resgatei o dinheiro no meio da crise e perdi 30% do que havia aplicado”, conta o estudante de Economia Gabriel Guerreiro, de 24 anos, investidor desde 2006.

Ele sabe que deu um passo em falso. “Fiz isso, mesmo sabendo que não era o certo. É complicado, as pessoas acabam achando argumentos e desculpas para si próprias. Dizem que estão precisando do dinheiro.