Americana BlackRock afirma que reduziu participação por causa de incertezas em relação à capitalização.

Principal investidora privada da petroleira diz que valor de mercado pode se recuperar após definição sobre processo.

Maior gestora de recursos do mundo e principal investidora privada da Petrobras, a empresa norte-americana BlackRock reduziu o investimento em ações da estatal devido às incertezas sobre a operação de capitalização.
Sem revelar o volume negociado, o gestor de ativos para a América Latina do BlackRock, Willian Landers, afirmou que reduziu “um pouco” a participação na empresa no segundo trimestre.

O capital foi realocado em empresas ligadas ao mercado interno, como varejo.
“Estamos vendo oportunidades melhores em outras partes e, dados o atraso na operação e as incertezas com seu tamanho e o preço dos barris, achamos que, na melhor das hipóteses, a Petrobras vai andar de lado até a operação ser definida.”
Sediado em Nova York, o BlackRock tem US$ 3,15 trilhões sob administração, em ações, renda fixa, imóveis e investimentos alternativos.
A área de ativos para América Latina tem US$ 8 bilhões, dos quais 72% no Brasil. Do total, 8% estão alocados na Petrobras. Isso não inclui participação em fundos de energia, sob o comando de outros gestores.
Até o fim de 2009, o BlackRock detinha 6,16% das ações preferenciais (sem voto) da Petrobras. É o único investidor privado conhecido publicamente por ter mais de 5% das ações preferenciais.

Além do BlackRock, são conhecidos apenas a controladora União, a Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) e o BNDES, que possuem participações maiores.
Landers ressalta, ainda, a incerteza gerada pelo tamanho da operação.
“É uma operação nunca vista no Brasil, a duas semanas da eleição. Há o risco de a diretoria sair em seis meses. Depende da precificação de um ativo difícil, que é um barril futuro. Há a regulação mudando no setor.”
Depois que a operação ficar clara, diz Landers, a Petrobras voltará a ser uma das preferidas do BlackRock.
Mas, se os barris vierem com preço alto, afirma, há risco de a operação não ser aceita pelo mercado.
“O investidor não vai tirar investimento da Exxon se o preço for muito alto.”

INSEGURANÇA 

Para Edison Garcia, superintendente da Amec (Associação de Investidores do Mercado de Capitais), o mercado está “muito arredio e inseguro” com relação à capitalização. Desde o início do ano, o valor de mercado da Petrobras já caiu cerca de 25%. “Falta transparência.”
Segundo Osmar Camilo, analista da Socopa, a desvalorização das ações da companhia é resultado principalmente “das incertezas geradas pela capitalização”. O acidente da BP nos EUA, diz, teve um impacto secundário.
A Petrobras disse que as informações sobre a venda de ações são confidenciais. 

Minoritários exigem nova assembleia de acionistas
A Petrobras poderá ser obrigada a fazer uma nova assembleia de acionistas para deliberar sobre a capitalização, atrasando ainda mais a maior operação de captação de recursos no mundo, prevista para setembro.
Acionistas minoritários liderados pela Amec (Associação de Investidores no Mercado de Capitais) pedem a nova assembleia para que os diretores da empresa façam, publicamente, a sua recomendação sobre o negócio, com base no preço do petróleo que será estipulado pelas consultorias contratadas.
A última assembleia da Petrobras jogou para o conselho de administração a palavra final sobre a modelagem da capitalização. 

EM CIMA DO MURO
A Amec argumenta que, da forma como foi desenhada, a operação desrespeita a nova instrução da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que versa sobre transparência nas assembleias.
A regra foi feita para que os administradores da empresa “saiam de cima do muro”, possam ir contra os interesses dos controladores e apresentem sua visão sobre negócios que mexam com o futuro da empresa, como fusões, aquisições e contratos.
A instrução abre caminho inclusive para os acionistas depois processarem os administradores, caso eles tenham feito uma recomendação que se revele contra o interesse da empresa. 

O caso é polêmico, envolve uma regra que não tem antecedentes e nem foi testada. 

Para o advogado Carlos Eduardo Bulhões Pedreira, que estuda as regras da capitalização, a Petrobras terá de fazer a nova assembleia. Ele diz, porém, que a regra não é clara sobre capitalização, mas sim sobre deliberações de contratos, como o que estipula o preço do petróleo.
“É o maior desrespeito ao mercado, só comparável com a suspensão do “tag along” (prêmio pelo controle) feito para viabilizar a privatização da Telebrás”, afirmou Edison Garcia, superintendente da associação de investidores.
Procurada, a Petrobras disse que estava impedida de se pronunciar sobre o caso. (PEDRO SOARES, SAMANTHA LIMA e TONI SCIARRETTA – Folha de S.Paulo)