Com juro real situado hoje perto 4% ao ano, resultante da taxa Selic de 8,75% descontada a inflação, a taxa usada como referência nas projeções atuariais pela previdência complementar, de 6%, precisa ser reduzida “para evitar uma ilusão financeira que pode custar caro a poupadores e fundos”, segundo analisa o diretor da Corretora Nunes e Grossi Seguros, o economista Keyton Pedreira. “A Secretaria de Previdência Complementar precisa mudar a taxa dos fundos de pensão para baixo. Com os números atuais, mesmo se a Selic subir 1% no próximo ano, mantida a inflação, ainda haverá desequilíbrio”, alerta.
A redução da taxa de juros aplicada na previdência complementar fechada, segundo ele, trará mudanças para o bolso de poupadores e os cofres das entidades. “Para os fundos de pensão que possuem planos de benefício definido e que ainda usam juros de 6% ao ano, o impacto será grande”, prevê. Segundo ele, nas entidades que são lucrativas, a sobra de recursos deixará de existir, podendo até se transformar em um quadro operacional negativo, enquanto aquelas com contas equilibradas podem passar a trabalhar com déficit. Já nos fundos deficitários, a dívida tende a aumentar.
Na previdência privada aberta, Keyton Pedreira lembra que os planos com previsão de contribuição definida não sofrerão impacto direto com a redução da taxa de juro. O mesmo não ocorrerá com as pessoas que optaram pelos planos de contribuição variável, porque, embora as contribuições permaneçam inalteradas, na hora de se aposentar o poupador verá seu benefício vitalício projetado a uma taxa menor do que os atuais 6%. Para os participantes que ainda estão na ativa e vinculados a planos de benefício definido, as contribuições poderão aumentar. Mais uma vez, a situação explica-se pelo custo do dinheiro:
“Se o plano tem uma meta pré-definida e se os juros do reajuste desta meta forem reduzidos, eles terão de ser compensados com mais entrada de capital, ou seja, um pagamento mensal maior. Se o contribuinte já está aposentado, ocorre o mesmo, só que de forma inversa: como não dá mais para mexer no que ele contribui, a saída é reduzir o que ele ganha através de contribuições sobre o benefício”.
AJUSTE.
Keyton Pedreira afirma que para a maioria dos economistas, as taxas mais prováveis de juros a serem adotadas pela Secretaria de Previdência Complementar vão variar entre 5% e 5,5%. “Quanto menor, mais impacto; o mesmo ocorre hoje”, destaca. Ele lembra, exemplificando, que, nos últimos 15 anos, desde a criação do real, quem conseguiu poupar foi beneficiado pelas taxas de juros. Aqueles que guardaram R$ 100 por mês no colchão teriam hoje R$ 18 mil. Se o mesmo poupador tivesse investido em um plano de previdência de renda fixa, com os juros teria R$ 100 mil. O dinheiro pagava mais dinheiro.
Mesmo com reajustes necessários, na opinião do especialista, a opção pelos planos de previdência privados permanecerá atrativa. (Jornal do Commercio Brasil)