Inflação em alta e bolsa em queda. Depois de cinco anos de bonança, a combinação desses dois efeitos está atingindo em cheio os fundos de pensão. Os que têm maior parcela da carteira alocado em ações, como a Previ, fundo do Banco do Brasil, registraram ganho de apenas 1,62% no primeiro semestre. E mesmo outros em melhor situação, como a Real Grandeza, do sistema Furnas, que têm menos aplicações em bolsa e uma carteira de títulos alongada, chegaram a 6,14% no maior plano, ainda abaixo da meta, de 7,3%, correspondente ao INPC mais 6% ao ano.
Outros fundos de grande porte, como a Petros (dos petroleiros), também encontraram dificuldades para superar a meta, como praticamente todos as fundações. Até junho, o fundo atingiu 5,5% de ganho, ante uma meta de 6,65%. O maior fundo ligado a empresas privadas, a Fundação Cesp, ainda não fechou os números do semestre, mas tem esperança de superávit. “Em junho, devemos entregar uma parte dos bons resultados anteriores da bolsa, mas esperamos fechar o semestre acima da meta”, afirma Jorge Simino, diretor de investimentos da entidade.
No primeiro quadrimestre, último dado oficial da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), o ganho médio dos fundos estava em 3,53% enquanto a meta, medida pelo INPC mais 6% ao ano, estava em 4,35%. Para os dirigentes, a inflação em alta é um problema mais incômodo para os fundos de pensão, de maneira geral, do que a bolsa em queda. “A inflação come os ganhos da renda fixa porque reduz o juro real, e ainda pressiona as metas”, afirma Antônio Cruz, conselheiro e coordenador de investimentos da Abrapp.
Ele diz que o primeiro semestre foi o pior nos últimos cinco anos porque, geralmente, quando a renda fixa está pressionada pela inflação, a primeira alternativa dos fundos seria buscar oportunidades no mercado de ações. Porém a bolsa também passa por um momento de crise, o que deixa poucas alternativas às fundações.
Cerca de 58% dos ativos dos fundos estão ainda aplicados na renda fixa. No fim de 2007, as fundações atingiram o maior nível de investimentos em renda variável do histórico, de 36,7%, percentual considerado ainda baixo. O limite para investimento em ações é bem maior que isso, em torno de 50%, mas as grandes fundações investem em geral cerca de 30% nesses ativos. A exceção é a Previ, maior fundo de pensão do país, que têm 60% alocado nesse segmento.
Apesar das perdas, os executivos das fundações afirmam que ainda estão confortáveis por conta dos bons resultados obtidos entre 2003 e 2007, o que permitiu formar um colchão de segurança, ou seja, uma sobra de recursos acumulada para enfrentar tempos mais difíceis, como os de agora. Em abril, o superávit somado dos fundos era de R$ 76 bilhões, para um patrimônio de R$ 468 bilhões. A expectativa para esse ano não é tão otimista quanto em períodos anteriores, mas alguns ainda acreditam que o pior pode já ter passado e que a bolsa poderá, ao menos, ficar um pouco acima do nível do fechamento de 2007.
“Os bancos e consultorias ainda estão otimistas com as projeções, alguns chegam a falar em 80 mil pontos”, observa Fábio Moser, diretor de investimentos da Previ. “Não acredito que vá chegar a tanto, mas ainda creio que se possa fechar um pouco acima dos 64 mil pontos, nível em que estava no fim do ano passado”, diz ele.
Atípica, a Previ, que tem ativos da ordem de R$ 134 bilhões, está acima do percentual permitido para o investimento em ações e ganhou prazo até 2012 do Conselho Monetário Nacional, para se adequar. Moser lembra que a fundação ainda tem uma grande folga de superávit e que boa parcela da carteira está em veículos de investimento que não têm oscilações diárias, como a Neoenergia.
Já o presidente da Valia, Eustáquio Lott, tem ainda um cenário mais otimista para o segundo semestre.