A queda dos juros e a forte volatilidade da bolsa de valores terão efeito nos resultados dos fundos de pensão este ano. Com R$ 545 bilhões aplicados no mercado financeiro, nenhum fundo deve superar a meta atuarial este ano, segundo estimativas da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).
Na avaliação do presidente da entidade, José de Souza Mendonça, nem mesmo em um cenário positivo, as fundações terão rentabilidade boa. “O ano de 2011 está muito parecido com o de 2008”, disse o executivo em entrevista à imprensa logo após a abertura do 32º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, que reúne 3,4 mil participantes em Florianópolis.
O ano de 2008, por causa da crise financeira mundial, foi o único ano no período recente em que as fundações não bateram a meta atuarial. Naquele ano, a rentabilidade das fundações ficou negativa em 1,62%.
A Abrapp traçou três cenários para o desempenho dos fundos de pensão em 2011. No mais pessimista, com a bolsa na casa dos 40 mil pontos em dezembro, os fundos teriam rentabilidade negativa de 3,45% este ano, ante meta de 12,36% (variação do INPC mais 6% ao ano). Em um cenário otimista, com a bolsa chegando a 70 mil pontos, o ganho dos fundos seria de 10,19%, ainda assim abaixo da meta. Já no cenário mais provável, com o Ibovespa terminando dezembro em 55 mil pontos, os fundos teriam rentabilidade de apenas 2,67%.
Há ainda a queda dos juros, que contribui para piorar o desempenho das fundações. Só a redução de 0,5 ponto percentual na última reunião do Copom vai reduzir o retorno dos fundos em mais 0,1 ponto, de acordo com a estimativa de Devanir Silva, coordenador executivo da Abrapp.
Nesse cenário de queda nos juros, títulos corporativos (como debêntures) podem ser um caminho para os fundos terem rentabilidade maior, avalia Mendonça. “Hoje tem muito mais empresa emitindo, mas é preciso olhar esses papéis com muita cautela”, disse Mendonça.
Nos imóveis, segmento em que as fundações podem aplicar até 8% de seu patrimônio, Mendonça avalia que o investimento é seguro, mas pouco rentável. O percentual aplicado pelas fundações tem oscilado na casa dos 3% nos últimos anos.
Na renda variável, a participação atual, de 31,3%, é a menor desde dezembro de 2008, quando ficou em 28% por conta da queda da bolsa. Segundo Mendonça, essa estatística é distorcida pelos números da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil e maior investidora do mercado de ações. Excluindo essa fundação, a fatia do setor em renda variável cai para 18%.
Dados mais recentes da Abrapp mostra que até março os ativos totais dos fundos de pensão brasileiros chegaram a R$ 566 bilhões, o que equivale a 15% do Produto Interno Bruto (PIB). A previsão é que esse percentual deve dobrar em dez anos, chegando a 32% em 2021.
Boa parte desse aumento dos patrimônio dos fundos deve ser aplicado na bolsa. Atualmente, cerca de 60% dos ativos das fundações estão investidos em títulos públicos de renda fixa. Outros 31% estão em ações e o restante está em imóveis (3,1%), aplicados em fundos de participação (2,6%) e em operações no exterior. A previsão da Abrapp é que, em 2021, a renda variável responda por 50% dos ativos dos fundos, com o restante distribuídos nas outras modalidades. “É a bolsa que vai ser a maior beneficiada com o crescimento do setor”, disse o presidente da associação.
A Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, é o maior fundo de previdência fechado do País, com patrimônio de R$ 155 bilhões em março, segundo o ranking da Abrapp. Em seguida está a Petros (dos funcionários da Petrobras), com R$ 53 bilhões, e a Funcef (da Caixa Econômica Federal), com R$ 44,6 bilhões. Ao todo, existem 368 fundos de pensão de companhias privadas e estatais autorizados pelo governo a captar recursos de empregados para a aposentadoria. (DCI)