Na próxima segunda-feira, em algum lugar da Índia, deve nascer um cidadão bastante simbólico. Provavelmente ele não saberá, e sua identidade dificilmente será conhecida, mas ele carregará o título de habitante número 7 bilhões da Terra. A marca, embora considerada por especialistas um motivo para comemoração, por representar um triunfo da espécie humana na ocupação do planeta, também é um sinal de que algo deve ser feito. Em um mundo cada vez mais populoso, será preciso criar um padrão de desenvolvimento mais sustentável, garante o Relatório sobre a Situação da População Mundial 2011: pessoas e possibilidades em um mundo com 7 bilhões, lançado ontem pelo Fundo de Populações das Nações Unidas (Unfpa).
Sete bilhões de pessoas representam enormes possibilidades de crescimento, desenvolvimento criativo e aperfeiçoamento da humanidade, garantem os estudiosos da questão. “É maravilhoso a família humana ter ido tão longe e tão rápido. Temos o potencial para nos desenvolver de tantas formas que não podemos sequer imaginar”, opina o estudioso inglês John Sulston, diretor do grupo de trabalho sobre populações da Real Sociedade do Reino Unido. “No entanto, nossa comunidade está colocando uma carga insustentável sobre a Terra, criando problemas que não podemos ignorar”, ressalva o britânico.
A marca populacional de hoje pode sim ser vista como uma ampliação das possibilidades criativas e de desenvolvimento, mas também carrega consigo um problema gigantesco. Com uma população tão grande, a quantidade de água, de energia e de alimentos pode não ser suficiente, se mudanças no padrão de consumo não forem tomadas. “A marca de 7 bilhões se apresenta como um desafio duplo, já que apresenta inúmeras possibilidades de desenvolvimento, mas pode aprofundar as desigualdades atualmente existentes entre os países”, contou ao Correio Braziliense/Diario o representante do Fundo de Populações das Nações Unidas (Unfpa) no Brasil, Harold Robinson.
De acordo com o relatório do órgão vinculado à ONU, outro problema da expansão populacional atual é o seu desequilíbrio. Algumas regiões crescem rapidamente, gerando uma carga populacional acima do que o ambiente pode suportar, enquanto em outras ocorre uma diminuição. Um exemplo desse descompasso são as diferentes taxas de fecundidade — ou seja, o número médio de filhos para cada mulher —, que é de 1,7, nos países ricos e pula para 4,8 nas nações mais pobres.
A matemática é negativa para os dois grupos. Do ponto de vista econômico, países com a população estável ou em diminuição, como ocorre em diversas regiões da Europa, podem sofrer com estagnação econômica, falta de mão de obra, e desequilíbrio nos sistemas de previdência social. Da mesma forma, a alta natalidade, em especial, em regiões da Ásia e da África, é um entrave para a melhoria das condições socioeconômicas na região. Com mais crianças para sustentar, nem sempre os pais nessas nações mais carentes têm a possibilidade de prover condições adequadas para o desenvolvimento de seus filhos, gerando um ciclo de pobreza. “É preciso dar às pessoas o poder de decidir quando engravidar. Isso tem que passar a ser uma escolha consciente”, defende Harold Robinson, da Unfpa. (Diário de Pernambuco Online).