A inflação pressionada e a Bovespa num período de oscilações mais fortes desenham um cenário mais desafiador para os fundos de pensão, que devem ter que suar mais a camisa, em 2008, para bater suas metas atuariais. Depois de anos seguidos de excelentes rentabilidades, que em geral superavam com folga as metas, os fundos tiveram um primeiro quadrimestre mais apertado este ano, embora em maio, com a melhora na bolsa, o quadro já tenha ficado mais positivo. No acumulado até abril, algumas fundações como Previ e Petros, por exemplo, ficaram aquém de suas metas. Já outras, como a Valia, conseguiram superar por pouco o referencial. Em maio, dizem os dirigentes, os indicadores de ganhos melhoraram significativamente, mas eles reconhecem que este ano não deverá ser tão positivo quanto foi 2007, por exemplo, embora acreditem que poderão superar as metas.


“Este ano, com a inflação mais alta e a bolsa mais volátil, não devemos ter os 28% que atingimos ano passado, mas nossa previsão é chegar a algo entre 16% e 18%, o que também é um bom ganho”, afirmou Guilherme Lacerda, presidente da Funcef (fundo da Caixa Econômica Federal. O ganho acumulado do fundo, cujo patrimônio é de R$ 34 bilhões, está superando a meta no ano, principalmente devido à rentabilidade da carteira imobiliária, que, segundo ele, tem sido muito positiva.


Já a Previ, fundo dos trabalhadores do Banco do Brasil e maior do país, com R$ 132 bilhões, não havia superado a meta até o mês de abril. Com a maior parte da carteira aplicada em renda variável, a Previ acaba ficando muito sensível ao desempenho do mercado de ações. De acordo com o presidente da entidade, Sérgio Rosa, o quadro melhorou no mês passado. “Em maio provavelmente os números já se reequilibraram”, observou Rosa. Para o ano, ele acredita que o desempenho de cada fundo vai depender muito do perfil. “Pode ser que seja mais difícil cumprir a meta para esse ano, vai depender da composição da carteira de cada fundo. Realmente a inflação pressiona a meta atuarial e para nós, o desempenho da bolsa vai influenciar bastante”, disse Rosa, lembrando porém que as perspectivas para as ações no ano ainda são positivas.


Já os fundos que possuem carteira mais aplicada em títulos mais longos e atrelados à inflação tendem a sofrer menos. É o caso, por exemplo, da Valia, fundo da Vale do Rio Doce; e da Real Grandeza, do sistema Furnas. De acordo com Eustáquio Lott, presidente da Valia, de janeiro a abril, a rentabilidade acumulada foi de 4,46% contra a meta atuarial de 4,34%, fixada pelo INPC+6%. “Temos uma carteira de títulos públicos bem longa”, diz Lott. O patrimônio da fundação, de R$ 10,3 bilhões, tem 26% de alocação em bolsa e pode chegar a 35%. “Temos aproveitado algumas oportunidades na bolsa, mas o que temos olhado bastante são os fundos de participação, os FIPs”. Segundo ele, a Valia deve investir R$ 150 milhões nesse segmento.


Na Real Grandeza, que acaba de atingir patrimônio de R$ 7 bilhões, o ganho de maio, de mais de 3%, alavancou bastante a variação da carteira no ano e a rentabilidade acumulada chegou a 7,6% entre janeiro e maio, contra uma meta atuarial de 5,5% no mesmo período, de acordo com o presidente do fundo, Sérgio Wilson Fontes. “Montamos uma carteira de quase R$ 3 bilhões em títulos de longuíssimo prazo atrelados à inflação”, explica Fontes. Em maio, a bolsa também ajudou bastante e elevou o ganho do fundo que até abril estava mais apertado na meta.


Para o presidente da Petros, Wagner Pinheiro, as turbulências no mercado financeiro mundial devem tornar mais difícil a vida dos gestores em 2008, mas ele acredita que a meta de IPCA mais 6% será atingida com relativa tranquilidade.