Para evitar danos à candidatura Dilma, presidente desiste de veto a reajuste.

Gasto extra vai ser de R$ 1,6 bilhão apenas neste ano; Mantega diz que haverá novo corte no Orçamento federal
Para evitar desgastar eleitoralmente Dilma Rousseff, sua candidata ao Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cedeu e decidiu sancionar o aumento de 7,7% para aposentados e pensionistas do INSS que ganham acima de um salário mínimo.

 O governo defendia um reajuste de 6,14%, mas deputados e senadores elevaram no Congresso o índice para 7,7% e aprovaram também o fim do fator previdenciário.

Apesar da decisão de sancionar o aumento, Lula decidiu vetar o fim do fator previdenciário -mecanismo criado no governo FHC que funciona como um redutor para quem se aposenta pelo tempo mínimo de contribuição e ajuda a conter o deficit da Previdência.

O reajuste contrariou orientação da equipe econômica, que dizia não haver dinheiro para pagar o aumento dado pelos congressistas.

A decisão também contradiz declarações do próprio Lula, que havia dado sinais de que vetaria os 7,7% e afirmou que não seria influenciado pela eleição.

DESGASTE NA CAMPANHA
O presidente cogitava o veto até a sexta-feira passada. Ontem, porém, alertado de que o Congresso não só ressuscitaria o aumento como poderia elevá-lo, ele decidiu sancionar o reajuste.

Na avaliação do petista, o tema acabaria sendo discutido novamente pelo Congresso em plena campanha, trazendo desgaste para seu governo e para Dilma.

O ministro Guido Mantega (Fazenda), que defendia o veto, anunciou a decisão após reunião com Lula.
Segundo o ministro, o gasto adicional do governo com a diferença entre os reajustes de 6,14%, e de 7,7% será de R$ 1,6 bilhão neste ano.

Para custear a despesa extra, o presidente autorizou novo corte de gastos, inclusive de valores previstos para emendas de congressistas, que vão ter menos dinheiro para projetos em suas bases faltando menos de quatro meses para as eleições.
“Lula nos autorizou a fazer um novo corte. De modo que garantiremos equilíbrio fiscal, solidez das contas públicas e obtenção do superavit primário”, disse Mantega.

Segundo a Previdência, o reajuste será pago em agosto. O valor retroativo, de janeiro a junho, será pago no mesmo mês, dependendo da disponibilidade de recursos.

Economistas divergem sobre ônus financeiro
Especialistas ouvidos pela Folha divergem sobre o impacto negativo do reajuste nas contas públicas, mas afirmam que a sanção do índice de 7,7% representou ganho de capital político para Lula em ano eleitoral.

Para Marcelo Neri, economista da FGV, o reajuste terá impacto significativo nas contas do país. “Não adianta dizer que serão feitos cortes agora, se será preciso absorver esse impacto nos demais exercícios.” Para ele, a concessão foi motivada pelo ano eleitoral.

Já para Roberto Piscitelli, da UnB, o impacto será absorvido com tranquilidade. “O reajuste será revertido em consumo. É um dinheiro que volta como tributos.”

Reajuste beneficia 6% do eleitorado nacional.