Casar, manter uma casa e criar os filhos custa caro. Mas investir na relação pode valer a pena se o casamento chegar até a velhice. Uma pesquisa americana sustenta que a chance de um casal idoso ter problemas financeiros graves no final da vida é bem menor do que a de solteiros, divorciados e viúvos quebrarem aos 70 anos.
O estudo mostra que 45% das pessoas que vivem só correm sério risco de chegar à aposentadoria sem preparo financeiro para enfrentar o período de maior gasto com a saúde. E isso já contando que a pessoa reduzirá em 10% os gastos com consumo.
É mais do que o dobro dos 20% de casados que podem terminar a vida na miséria.
O trabalho foi feito pela Rand Corporation, uma ONG americana que faz estudos para detectar tendências e propor mudanças nas políticas públicas e privadas.
A ONG analisou a situação de pessoas de 66 a 69 anos e cruzou com dados de consumo e de serviços de saúde até 2008, antes da crise. Uma das hipóteses que explicariam por que os casais guardam mais dinheiro que os solteiros é que, dentro de um relacionamento, cada cônjuge se sente na obrigação de prestar conta dos gastos e de como investe o dinheiro que deixará aos filhos.
E isso vale até para casais com separação completa de bens e de conta bancária.
FREUD EXPLICA
Segundo a psicóloga Vera Rita de Mello Souza, autoridade brasileira em psicologia econômica, a psicanálise explica que as pessoas com habilidade para manter um relacionamento de longo prazo também costumam estar mais preparadas para achar seu espaço no mundo.
Quem é capaz de amar, de se relacionar e de se vincular talvez tenha também mais chance de conseguir trabalhar, de ganhar dinheiro e de se organizar. Quem está sozinho pode refletir uma dificuldade maior de estar no mundo, inclusive de ganhar dinheiro e de se sustentar.
Autor do livro Casais Inteligentes Enriquecem Juntos (Elsevier), Gustavo Cerbasi afirma que o mais importante nas finanças dos casais é o “autoconhecimento” da situação financeira e dos hábitos de cada um. Quanto mais aberto for o jogo, quanto mais o casal conversar sobre sonhos pessoais e se conhecer melhor, mais fácil será conduzir a dois uma estratégia de investimento.
Mello Souza afirma que, em uma família, quando todo mundo está envolvido numa poupança, é possível que se chegue a um valor mais alto. Economizar com um objetivo ajuda a poupar mais. Pode ser que pessoas sozinhas fiquem um pouco perdidas e se sintam sem identificação com o que almejar e para qual motivo lutar. Mas famílias também têm grande chance de se atrapalhar nas finanças porque acabam fazendo grandes sacrifícios pelos filhos. Também há muito conflito: um gasta e o outro guarda.
Os casais com filhos têm mais facilidade em compartilhar dinheiro. Já cônjuges que vieram de um casamento fracassado são menos dispostos a ter dinheiro comum.
A ONG também simulou diferentes cenários de corte nos gastos e no valor das aposentadorias para os idosos sobreviverem. Um corte de 30% nos benefícios seria uma tragédia para as pessoas que vivem sozinhas “”somente 43,8% se manteriam. Entre os casados, 72% ainda teriam uma situação financeira capaz de pagar as contas.
Mesmo com corte de 15% nas despesas, as pessoas que vivem sozinhas ainda teriam uma situação financeira pior do que as casadas que não mexeram nos gastos.
Casal do milhão explica segredo para aposentadoria precoce aos 46 anos
Marco Falcone, 40, e Regina Tesima, 41, se conheceram na faculdade de engenharia. Namoraram, casaram (com comunhão de bens) e começaram a juntar dinheiro para o sonho dos quatro filhos.
Duas décadas depois, o casal teve dois filhos, fez o primeiro milhão e planeja guardar mais para se aposentar, precocemente, aos 46 anos.
Autores de Como Chegar ao seu Primeiro Milhão, Falcone e Regina dizem que, sozinhos, cada um não teria chegado longe.
“A Regina quer guardar para ter liberdade, para ficar mais com os filhos e ter uma aposentadoria tranquila. Sou organizado. Quando meto uma coisa na cabeça, vou até o fim. Sou o operacional, ela é a gestora, diz Falcone. (Toni Sciarretta – Folha de S.Paulo)