Você já se imaginou aos 70, 80 anos? Tem algum plano financeiro para garantir uma velhice digna? Caso positivo, você faz parte de um grupo de menos de 3 milhões de pessoas no Brasil que possui um plano de aposentadoria complementar. Considerando-se que a População Economicamente Ativa (PEA) está estimada em cerca de 93 milhões de pessoas, representa um índice ainda menor que 3%. “Há um longo caminho pela frente. Se triplicarmos o número de pessoas, ainda é muito pouco”, destaca o presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), José de Souza Mendonça.

Uma das metas da Abrapp é mudar essa realidade. “Precisamos criar uma consciência previdenciária, fazer as pessoas se darem conta de que é uma necessidade pensar o futuro e se preparar para a aposentadoria”, afirma Mendonça, defendendo a educação como forma de promover a previdência complementar.

O público-alvo inicial é quem trabalha na iniciativa privada e ganha acima do teto do INSS, que é de R$ 3.600,00. Quando se aposentar, esse trabalhador terá perdas imediatas se não contar com algum tipo de investimento que lhe traga retorno financeiro. Do total da PEA, 10% recebe mais do que dez salários-mínimos. Além disso, o Brasil conta hoje com 15 mil empresas que faturam entre R$ 100 milhões e R$ 500 milhões, portanto, com condições de fomentar a formação de fundos, segundo o diretor de análise técnica da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), Carlos de Paula.

“O desafio para universalizar a previdência é atrair a classe média, que chega a 50,5% da população”, ressalta de Paula, lembrando que é um contingente de pessoas com fôlego de consumo e que hoje está mais interessado em adquirir um carro, uma TV 42 polegadas ou uma casa. Então, como fazer esse segmento colocar sua aposentadoria como prioridade em meio a tantas opções de consumo? Através do conhecimento sobre o perfil deste trabalhador. Pesquisa realizada em 2010 pela Abrapp mostrou que a maior parte dos empregados que não aderiu ao plano complementar oferecido por suas empresas era bem instruída. “Entendendo essas pessoas temos melhores condições de inovar na captação de novos participantes, repensando produtos”, explica Fábio Augusto Noronha, da Comissão Técnica Nacional de Seguridade da Abrapp. Baseada no estudo, uma das entidades criou um setor para trabalhar a captação e retenção e conseguiu ampliar em 445% as adesões; outra ampliou para 98% a participação de empregados de sua patrocinadora.

Na hora de captar clientes, uma das ferramentas de convencimento é a portabilidade, ou seja, a possibilidade de levar os recursos de uma empresa para outra quando o trabalhador mudar de emprego. Como o tempo de permanência das pessoas nas empresa vem caindo, essa questão se tornou essencial para os planos previdenciários complementares. 

Para serem eficientes, planos devem respeitar o perfil de cada usuário A educação financeira deve começar na escola. Mas, enquanto não é realidade, a pessoa que entra no mercado de trabalho já deve pensar em uma poupança para sua aposentadoria. E é aí que entram os fundos de pensão.

Ao estudar o tipo ideal de poupança para o futuro, deve-se levar em consideração a idade que pretende se aposentar, sua longevidade e a renda que imagina ser significativa para manter um determinado padrão de vida. O professor e consultor especialista em previdência complementar Flavio Marcilio Rabelo ensina que não há uma fórmula aplicável a todos, cada pessoa tem um perfil e expectativas diferentes para a aposentadoria.

Depois de definida uma meta de valor poupado, por exemplo, R$ 1 milhão, é preciso calcular qual a reserva mensal necessária para juntar esse valor. Isso depende da taxa de retorno dos investimentos e da inflação. Não é uma conta simples e é preciso ter noções de cálculos de juros compostos. Mas com orientação de um especialista é possível ter uma ideia de como chegar lá.

“A educação financeira é de extrema importância, e não é só para a aposentadoria, é para planejar a compra da casa própria, os gastos médicos, a aquisição do carro etc”, observa Rabelo. Ele destaca que a OCDE (Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico) desenvolveu um programa específico sobre o tema com o objetivo de promover a cooperação internacional. (Jornal do Comércio/Porto Alegre)