O envelhecimento da população não constitui novidade. Com a taxa de fecundidade caindo e a expectativa de vida aumentando, o fenômeno vem sendo registrado pelas estatísticas. A violência, que mata mais jovens do que idosos, constitui triste aliado da nova realidade. No Brasil, o percentual de pessoas que chegaram a 60 anos é de 8,6% da população. Projeções indicam que em 2027 o índice dobrará. Em bom português: daqui a uma década e meia, o país terá 32 milhões de idosos — a sexta população do mundo nessa faixa etária.

Embora nacional, a tendência mostra-se mais acentuada no Distrito Federal. Segundo o IBGE, 7,7% dos moradores do DF completaram 60 anos. A cifra representa quase 200 mil cidadãos (197.613). Por ora, o percentual é menor que a média brasileira. Mas, considerado o ritmo de crescimento mais acelerado que em outras unidades da Federação, em 2030 o indicador baterá em 14,9%.


O salto quantitativo constitui desafio para o governo. Acostumado, como o restante do país, a se ver como terra de crianças e jovens, o Distrito Federal precisa se preparar para os novos tempos. Como Jano, o deus romano de duas caras, com uma tem de olhar para a infância, a adolescência e a juventude; com a outra, para a velhice. Vale dizer: terá de traçar políticas para ambos os segmentos. Investimentos também devem ser remanejados para que as respostas sejam eficazes.


Um dos problemas de solução inadiável é a acessibilidade. Além da universalização de rampas alternativas a escadas, há que modernizar a frota de transporte público que circula no Distrito Federal. Elevadores para facilitar o embarque e desembarque de passageiros é medida imperiosa em toda a frota. Não só. Calçadas, que hoje são luxo na cidade, precisam ser construídas ou reconstruídas tanto no Plano Piloto quanto nas cidades do DF. É incompreensível que áreas nobres como o Setor Hoteleiro, frequentadas por turistas e cidadãos locais, não contem com espaço adequado para a circulação de pedestres.


A saúde também requer avanços. Atendimento médico-hospitalar exige adaptações e modernização. Quadras de esporte e oferta de opções de lazer não podem ser ignoradas. Trabalho, remunerado ou voluntário, deve ser estimulado. O setor imobiliário precisa estar atento. Cada vez mais idosos precisarão de moradias adaptadas à idade. Nos países desenvolvidos, que convivem há décadas com o envelhecimento da população, são comuns casas, apartamentos e apart-hotéis que dispõem de recursos aptos a atender as urgências típicas de idosos. Em suma: os números apontados pelo censo devem servir de base para o planejamento público e privado. Não se aceita esperar que as portas sejam arrombadas antes de trancá-las.  (Brasília em Tempo Real).