Embora representantes do BC tenham afirmado que a inflação irá convergir para o centro da meta, nenhum dos analistas consultados pelo Brasil Econômico acredita que esse cenário se concretizará.
A elevação da taxa Selic é a primeira opção que aparece para a autoridade controlar uma indesejável disparada dos preços. No entanto, com o nível da atividade doméstica em um crescimento ainda aquém do esperado, um aperto monetário pode estrangular o paciente que busca fôlego para seguir vivo.
Essa combinação de inflação forte com expansão fraca da economia coloca o governo em uma encruzilhada, e remonta à outra questão, que é a do intervencionismo promovido pelo Estado neste ano, que é apontado como razão para a falta de investimentos no país.
“A priori, não é de se esperar um menor número de intervenções no mercado. É mais fácil dobrarem a aposta do que reduzirem”, diz Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank.
A expectativa da casa é que a Selic permanecerá nos atuais 7,25% até dezembro do próximo ano.
“A gente não trabalha com a queda dos juros, apesar de entender que existe a chance disso acontecer. O cenário para a inflação é muito ruim”, comenta Serrano.
Pelos cálculos da instituição, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve terminar 2013 entre 5,5% e 6%, com mais chances de ficar na parte alta da banda.
“O BC vai ter pouco espaço para reduzir a taxa de juros mesmo em um ambiente de atividade moderada”.
Chegou a se especular a possibilidade de o governo trabalhar com um dólar mais alto, para ajudar na competitividade da indústria, principalmente após o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre.
Serrano explica que, caso o dólar saía dos atuais R$ 2,10 para algo próximo dos R$ 2,20, o impacto adicional na inflação deve ficar entre 30 e 40 pontos-base, o que levaria o IPCA para o teto da meta.
“O dólar mais alto e a Selic mais baixa não alteram tanto o crescimento, mas pioram demais o lado da inflação”, fala Serrano.
Se a economia começar a demonstrar sinais mais consistentes de retomada, o economista do Espírito Santo não descarta o cenário inverso, de um real mais forte, abaixo dos R$ 2,00, para ajudar no controle de preços.
A projeção da casa era de um dólar a R$ 1,95 em 2013, que foi elevada para R$ 2,00 após a divulgação do PIB, mas que ainda assim fica abaixo dos R$ 2,10 esperados para o final deste ano.
Já o estrategista-chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno, trabalha com uma estimativa para a Selic de 8,25% em dezembro de 2013.
Os preços em alta, para este especialista, devem forçar a autoridade monetária a rever sua atual intenção de manter a Selic inalterada por um período de tempo prolongado.
” Acho que o BC vai se ver forçado a subir os juros mais à frente para evitar a desancoragem das expectativas inflacionárias em 2014 “, fala Rostagno.
Com uma projeção parecida com a de seus colegas de mercado, o WestLB prevê um IPCA encerrando o ano que vem em 5,7%.
“O único contrapeso vai ser a redução de energia, sendo que ao mesmo tempo vai ter pressão pra alta no preços dos combustíveis”, nota o estrategista-chefe do WestLB. “O cenário não está favorável para a manutenção da taxa de juros”.
” Se olharmos simplesmente a inflação, teria de subir os juros. Se olharmos o nível da atividade, teria que cair. Como temos que observar as duas coisas, a não ser que tenha uma disparada muito grande da inflação, ou uma piora intensa no nível da atividade, o BC deve manter os juros nesse patamar”, resume Luiz Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.
Em relação ao câmbio, Leal acredita que essa não será uma variável utilizada para ajudar na inflação, com um real mais forte, mas tampouco será usada para ajudar a indústria, com um dólar mais alto.
” Acho que a ajuda do dólar para a inflação é ele não atrapalhar “, comenta o especialista.
Para Leal, a flutuação suja do câmbio doméstico deve prosseguir nos próximos meses, ainda dentro de um intervalo entre R$ 2,05 e R$ 2,10, que é o patamar mais neutro para não influenciar em outras variáveis da economia.
” Houve uma comunicação importante do governo em termos de política econômica, que induz o mercado a aceitar certos limites.” (Lucas Bombana – Brasil Econômico).